Devemos ou não criticar os maus atos de nosso próximo? Será que, sem a crítica, nosso próximo pararia para repensar os procedimentos errôneos que tem praticado? Ou será que a crítica apenas desperta o ódio que existe escondido no interior de cada um? Já existe crítica demais e poucas lições do verdadeiro amor?
"Interprete o adversário como portador de equilíbrio; se precisamos de amigos que nos estimulem, necessitamos igualmente de alguém que indique os nossos erros."
Quando Sócrates respondeu ao rapaz (que lhe trazia um novo caso para contar), se o que estava fazendo tinha passado pelo teste das três peneiras, VERDADE, BONDADE e NECESSIDADE, não seria porque já conhecia bastante o discípulo para saber do baixo nível de suas estorinhas? As críticas não deveriam também passar por este teste? Jesus teria passado sua ação pela peneira da BONDADE quando secou a figueira em vez de fazê-la produzir frutos em abundância? É óbvio que todos conhecemos a interpretação que o Mestre quis dar de que somos julgados pelos frutos que produzimos, mas todos sabemos também de sua infinita bondade e misericórdia. Não estaríamos nós enganados sobre o que entendemos por bondade? Se Jesus o fez, sendo perfeito, então o teste da Bondade não seria absoluto, mas dependeria das circunstâncias.
Quando Jesus nos falou do argueiro no olho, com certeza estava se referindo à tendência da maioria, principalmente daqueles que não seguem seus ensinamentos, de ver o mal dos outros de forma habitual, isto é, como hábito que adquiriram. Até mesmo nesta frase do argueiro estaríamos vendo o mal na pessoa que criticou primeiro. Jesus poderia fazê-lo porque era perfeito, mas nós deveríamos nos preocupar mais em corrigir os nosso próprios erros. Jesus poderia dizê-lo, mas nenhum de nós, imperfeitos como somos, teríamos autoridade para fazê-lo. No entanto todos ficam repetindo essa frase como se não fossem capazes de cometer o mesmo erro, como se estivessem isentos de imperfeições, e na verdade ao proferir a frase já o estariam fazendo. Isso é um raciocínio fácil de se chegar, e muitos abandonam as religiões por causa dessas incoerências, desses raciocínios sem fundamento lógico, que vem sendo repetidos há séculos pelas igrejas.
Para se adotar uma atitude realmente cristã essa frase do argueiro não deveria ser uma resposta a críticas como soe ser. O criticado deveria antes parar para refletir e, se mereceu a crítica, corrigir seus procedimentos para que ela não se repita. Se não a mereceu, deve compreender que todos à sua volta, que conhecem seu trabalho, sabem também que foi imerecida e que cabe a Deus o julgamento final, encerrando aí a questão. Mas se responde repetindo a frase de Jesus, estaria recusando a crítica e devolvendo outra, numa atitude de orgulho, que não se justifica
Mas essa prática já está tão difundida que até quando se comenta o Evangelho, em reuniões com essa finalidade, onde se pretende que pela diversidade dos comentários individuais se chegue a uma compreensão melhor, existe sempre alguém que veste a carapuça e repete a frase do argueiro. Se o que se entendeu como crítica foi uma mera interpretação do Evangelho, então esse irmão deve achar que o próprio Evangelho está errado, o que parece ilógico já que ele freqüenta o Centro. É claro que cabe à dirigente dessas reuniões orientar a todos os presentes, ditando as normas de comportamento que todos devem seguir neste tipo de reunião, mantendo sempre a disciplina, e usando para isso de tato e experiência toda especial, que deve ser uma das qualidades de quem assume esse cargo.
Será repreensível observar as imperfeições dos outros, quando disso não puder resultar nenhum proveito para eles, mesmo que não as divulguemos? Esta pergunta é respondida por São Luís2:
"Tudo depende da intenção. Decerto, a ninguém é proibido ver o mal, quando ele existe. Fora mesmo inconveniente ver em toda parte só o bem. Semelhante ilusão prejudica o progresso. O erro está no fazer-se que a observação redunde em detrimento do próximo, desacreditando-o sem necessidade, na opinião geral."
Nada mais claro. Aqui não há nenhuma parábola de difícil compreensão, o que se está dizendo é que é natural observarmos os erros alheios, sem comentários, de modo que o próximo não seja com isso prejudicado.
Resumindo, podemos citar as palavras de Jesus? Podemos comentar seus ensinamentos para melhor compreendê-los?
Sim, podemos. O que não podemos é recusar ver nossos próprios erros.
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